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quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Gordofobia e Opressão Estética MATAM


No passado eu quase morri por conta de opressão estética e gordofobia. Pois a maneira insana e cruel que me agrediam e rejeitavam por ser gorda me lançou na armadilha da anorexia e bulimia. Por isto vira e mexe eu toco no assunto por aqui ou nos vídeos, pois eu senti na pele o que a intolerância estética pode destruir. Mês passado uma moça chamada Cíntia faleceu após realizar  várias dietas sem acompanhamento nenhum para emagrecer a qualquer custo, ela começou essa jornada para a morte após sofrer gordofobia. Sim este texto será bem sério e em homenagem a todas as Cíntias que perderam essa batalha e não estão mais entre nós, eu poderia ter sido uma , mas felizmente consegui me recuperar à tempo.



Eu fico muito indignada com o ódio que vemos online, a intolerância e perseguição da sociedade aos gordos e mulheres em geral. E mais ainda quando vejo gordas falando mal de outras gordas, tentando silenciar, criticando a roupa, as escolhas, a barriga grande, as dobrinhas, xingando de tudo quanto é coisa como se fossem melhores que as mais gordas e hoje em dia eu nem argumento mais, clico logo em banir pois esse tipo de comentário pode desengatilhar uma série de transtornos, problemas em outras mulheres gordas. Eu prefiro perder mil seguidores e assim tentar criar um ambiente mais amigável para gordas de 3 dígitos do que continuar com esses 1000 seguidores e prejudicar 1 vida. Sim porque nós donos de página pra gordos precisamos ter essa consciência, pelo menos eu penso assim, prefiro perder likes a contribuir para perda de vidas por causa de comentários recheados de preconceito e ódio.

Acho que já passou da hora dos donos de páginas se conscientizarem disso, adms deveriam se ligar nisso em respeito ao seu público. Quem já sofreu o inferno da baixa autoestima, transtornos de imagem e alimentares sabe bem como é prejudicial ler tanta coisa pejorativa sendo dita sobre gordos pro próprios gordos ou ex-gordos! Fora as páginas e grupos de gordos que só falam em emagrecimento e dieta, entupindo a timeline com fotos de "antes e depois"! Simplesmente deprimente! Não sei como não enxergam a incoerência nisso e o quanto isso é prejudicial ao público!

Tem pessoas que montam páginas nas redes sociais pra ficar falando de emagrecimento, do quanto emagreceram, com montagens de fotos do início da dieta e foto atual....e não percebem o quanto isso grita pro mundo que elas ainda precisam de validação e aceitação da sociedade, o problema de autoestima continua ali e agindo assim o problema é ensinado como algo legal, quando na verdade não de veria ser seguido ou estimulado. Sua foto de iogurte com chia não ajuda ninguém mulher! Pelo contrário! Nãos ei se conseguiram entender, mas o que quero levantar aqui é a necessidade urgente de desvincularmos páginas de gordos do tema emagrecimento/dieta! Isso é extremamente prejudicial  e não deveria andar por aí junto como unha e cutícula!

Quer falar de reeducação alimentar e dietas e do quanto sua nutricionista é linda, monte uma página sobre isso! Não iluda gordas que estão com baixa autoestima dizendo que emagrecer é a solução de tudo porque não é! É por causa de gente que pensa assim que vemos tantas pessoas morrendo por causa da ditadura da beleza!Seja mais responsável com o que posta em suas páginas, perfis e blogs nas redes sociais! E todas que eu encontrar que forem assim, deixarei de seguir no ato!

Chega dessa cultura de culto ao corpo e ditadura da magreza!
Basta!






Beijões Queen Size,

Claudia Rocha GorDivah

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Opressão Estética e Você Que Se Acha Gorda Sem Ser


"Não, você não é gorda. E não, isto não é um elogio." É o que gostaria de falar para muitas moças que nos enviam fotos dizendo que são gordas e querem postar suas fotos no álbum de "Curtidoras Gordas" da página . Eu um dia já fui como vocês, pesava 70kg com 1,68, vestia 40/42 e me achava muito gorda, enorme, gorda mesmo. O que eu não sabia na época é que estava me vendo, enxergando meu próprio corpo de forma distorcida, como muitas magras hoje também enxergam. Eu tive esse estalo e inspiração para escrever este texto ao receber as fotos das curtidoras para o álbum da página CanalGorDivah onde colaboro.

E à primeira vista me preocupou muito ver tantas moças com pouco  sobrepeso se achando gordas, mas foi só abrir alguns portais e ver a raiz de tanta distorção ao enxergar a si mesma: a mídia incita mulheres a se enxergarem de forma distorcida, a se depreciarem ao olhar corpos que não parecem capas photoshopadas de celebridades que podem gastar horrores em tratamentos estéticos. A mídia vomita opressão estética na sua cara todo dia, mas entenda que agir com preconceito consigo mesma por causa do corpo que você tem, não é nada legal pra você. E agir de modo gordofóbico com outras pessoas gordas, obesas NÃO ajuda em nada! Não ajuda os outros e nem a você!



Enxergar a si mesma de forma distorcida é tudo que a indústria da beleza e  mídia esperam de você. E também esperam que você vire um fitness fanático e principalmente gordofóbico e opressor da estética alheia. Eu fico impressionada ao ver tanta gente criticando o corpo de outras mulheres, como se todas nós tivéssemos a obrigação de ser clones loiras, magras e saradonas. E criticam celebridades com tanto furor que parece até que as pessoas xingadas comem criancinhas no café da manhã. E daí que a fulana famosa foi à praia e fotografaram celulites, mulheres tem celulites. E daí que a outra foi caminhar e na foto aparecem as estrias dela. Homens também tem estrias gente!



E quando eu achei que já tinha visto de tudo, eis que zapeando vejo uma matéria sobre grávidas que malham pesado no CrossFit com 5 meses de gestação, mulheres que se recusam a tirar fotos deste momento pois não aceitam registrar sua imagem com uma barriga grande, pois se acham "sapas", cara quando eu ouvi uma ex-apresentadora falando isso eu viajei e imaginei a cena: a criancinha  perguntando mamãe por que não tem foto sua comigo na barriga? O que será que essa mãe responderia? E a tal moça já tinha uma filha. Eu juro que fiquei com medo do futuro, que mulheres e homens teremos no futuro? Se nem aceitar barriga de gravidez aceitam mais, quanto mais barriga de gordura!



Eu já sofri opressão estética mas nunca fui gordofóbica com os outros. Nunca fui de ficar policiando a aparência de ninguém, nem de amigos ou namorados. Eu compreendo que isso dói, ser oprimida esteticamente, mas não se compara ao que passo hoje por conta da gordofobia. Não caber na sociedade é diferente de ser apenas criticada por não ter um corpo 0% de gordura. Não tenho intenção de diminuir o sofrimento de alguém mas sim de dar um estalo pra outro ponto de vista. Se você que sofre opressão estética acha isso ruim sem ser gorda/obesa, imagina se além disso você não coubesse em alguns lugares, tivesse acessibilidade negada para ir e vir, se divertir, locomover, realizar exames! Uma coisa é criticarem algumas partes de seu corpo, outra é te atacarem com raiva por você ser gorda e ter dificuldade para fazer coisas simples do dia a dia como passar numa roleta, sentar num banco no transporte público, fazer exames médicos, ser olhada na rua como se fosse uma criatura mítica, etc.

Enfim, por favor, entenda, aceite e repense: opressão estética é uma coisa e gordofobia é outra, mais profunda, ampla, criminosa, preconceito é teoricamente punido por lei nesta "magrocracia" em que vivemos. E digo magrocracia porque na prática não existe democracia para gordos!







Beijões Queen Size,

Claudia Rocha GorDivah

domingo, 12 de julho de 2015

Deixem minha calvície em paz: sobre opressão estética e financiamento de pesquisas


                                                                                                            Por Hugo Sousa da Fonseca


Zymo HSOR, Minoxidil, Finasterida, 17 Alfa Estradiol, Fitoterápicos, Vitaminas e minerais, Xampu de Cetoconazol, Gel FF, Revivogen, Auxina, L-Carnitina. Junto às inúmeras simpatias mais empíricas, eis o rol de indicações que nós calvos sempre recebemos das pessoas. Já reparou que todo mundo tem uma saída infalível pra esse monstro que é ficar careca? Na maioria das vezes nem perguntamos nada, mas todo mundo sempre se acha responsável por não só apontar sarcasticamente uma queda de cabelo evidente, mas também por indicar algum medicamento para que ela pelo menos esteja amenizada.
Comecei a apresentar esses temerosos sintomas aos 17 anos e por isso já ouvi muita coisa desse tipo. Passei por alguns médicos, rezas das mais fiéis e uma coisa me chocava: as inconvenientes pessoas que me abordavam estavam sempre mais preocupadas com esse “problema” do que eu mesmo. Aliado a isso, um bombardeamento de campanhas publicitárias me deixava numa saia-justa enorme, tentando me fazer crer que havia algo de muito errado comigo.
Iniciei alguns tratamentos e nunca entendi a real necessidade de ingerir aqueles remédios que até os médicos afirmam: não vão resolver porra nenhuma. Talvez algumas piadinhas e comentários ofensivos me fizessem naturalizar minimamente aquela rotina, pois a resposta mais óbvia à zoação é a tentativa de sair da condição de pessoa calva. Mas o fato é que nunca refleti seriamente sobre a necessidade de tamanhos gastos em uma droga que deveria me fazer alguém melhor(?). Eu pulava alguns dias, me esquecia de tomar o bendito remédio, até tentava cotidianizar aquela preocupação, mas às vezes eu fracassava.
Mais uma vez, a sensação era de que havia algo de muito errado comigo porque ao meu redor o medo da calvície era sempre um assunto pautadíssimo. Assim, por mais que eu resistisse, esse medo também me molda(va). Enquanto escrevia esse texto, numa folga entre uma frase e outra, meu facebook sugere um produto através da seguinte manchete: Produto que Fortalece o Cabelo e Acelera o Crescimento em 350% Chega Ao Brasil¹. No anúncio, a seguinte introdução: “Apesar do dizer “é dos carecas que elas gostam mais”, uma pesquisa na inglaterra confirmou que 76% das mulheres entre 25 e 40 anos preferem um homem com cabelo à um careca.”  Sem aprofundar na problematização da forma cis-sexista e heteronormativa com que a propaganda trata atração sexual e amorosa, é risível uma pesquisa com resultados tão óbvios. A ideia é forçar a venda de um produto, colocando alguns números para dar alguma credibilidade.
A queda de cabelo é vendida como uma situação que te deixa mais feio, menos charmoso, menos atraente e toda essa lavagem cerebral acaba estruturando a forma como lidamos com o nosso próprio corpo. É torturante ver fotos expostas com tamanho sensacionalismo, que colocam sempre um Brad Pitt em oposição a um calvo, naquele formato Antes e Depois. Os remédios cumpririam a função de inclusão no padrão de beleza. A gente se sente mal e, obviamente, esses 76% de mulheres que “preferem” homens com cabelos também passam pelo mesmo processo simbólico.
É importante observar que há muito tempo a militância dos diversos movimentos negros organizados problematiza a relação entre cabelo e identificação com o próprio corpo. A opressão pelos cabelos no caso da negritude se dá num nível maior de complexidade, é reflexo de uma opressão estruturante da nossa sociedade, mas podemos aprender com algumas reflexões já feitas pra tentar entender como se dá o processo de auto-estima de corpos que desviam do padrão esteticamente aceito pela sociedade. Minha intenção não é fazer uma crítica simplista às pessoas que fazem tratamento para calvície porque não lidam bem com ela. Eu sei como é foda! Um último texto² que vi no Blogueiras Negras trazia um parágrafo que traduz o que eu quero dizer:
Eu concordo e defendo a bandeira de que o corpo é seu e de que você tem o direito de fazer o que quiser com ele, mas, por favor, reflita antes de tudo: O que você tem feito é por que você quer? Se você quer, o que te motiva a isso? Se no final, a resposta te levar a um padrão de opressão, tá tudo errado. Acredito que o mesmo vale pra quem tem o cabelo liso ou encaracolado e quer a todo custo “baixar” o volume. Quem foi que te disse que o volume precisa ser baixo? O alto é muito mais divertido. Não acredite que você precisa recorrer a produtos esdrúxulos periodicamente pra ter um cabelo legal. O padrão racista adotado na indústria cosmética não quer que você resista ou perceba o quanto ela oprime a nossa identidade.
Esse é o ponto: enquanto nos mutilamos, não apenas fisicamente, a indústria cosmética vai se beneficiando; enquanto a imagem do cabelo afro é destruída a $alvação do alisamento vem por um preço bem caro. É impressionante o espaço que pesquisas de alisamento, de combate à calvície e também de emagrecimento têm hoje não apenas na publicidade, mas no próprio processo de fomento a pesquisas. Parece meio clichê de esquerda dizer, mas não há como não observar: a ciência de hoje tem violentado corpos, porque está envolvida exclusivamente com as demandas do mercado. Não foi nenhum comunista que alertou recentemente, foi Bill Gates: o capitalismo significa que há muito mais pesquisa sobre a calvície masculina do que em doenças como malária, que afetam majoritariamente as pessoas mais pobres. Ele ainda acrescenta:  “A vacina contra a malária é a maior necessidade. Mas quase não tem financiamento. Mas se você está trabalhando com a calvície masculina ou outras coisas você pode conseguir mais recursos para pesquisa por causa da voz que tem no mercado, mais que algo como a malária”.
Nesse sentido, é urgente que questionemos a que(m) tem servido esse ~conhecimento~ produzido nos laboratórios. Nas Universidades, essa lógica de mercado ainda exerce influência absurda frente às/aos pesquisadoras/es, secundarizando inúmeros experimentos comprometidos com problemas concretos da sociedade. Públicas ou privadas as Universidades devem estimular processos de mudança social e se referenciar na realidade a cada página escrita ou conta feita.
A educação no Brasil é uma história de privilégios, de manutenção de interesses dominantes: é hora de fazer diferente. A ciência tem responsabilidade social e por isso não é aceitável que as necessidades humanas sejam moeda de troca, instrumento de lucro. É bandeira histórica do Movimento Estudantil a reivindicação por financiamento público de pesquisa nas Universidades, como forma de superação dessa ingerência do mercado na produção acadêmica. Esse grito discente por liberdade na academia representa uma concepção mais ampla de projeto de sociedade, mas também visa combater opressões diárias que acontecem. Priorizar o mercado é inviabilizar que o ~progresso~ da ciência signifique um avanço pras as PESSOAS. Financiar o tratamento da calvície é um efeito simbólico violento sobre os calvos, mas também é uma resposta omissa frente as pessoas que estão morrendo por doenças pouco pesquisadas/lucrativas.
A ciência mercantilizada de hoje em dia me vê como alguém que merece muita atenção – preocupação que parece se estender às pessoas como um todo – e com esse texto eu quero dizer: deixem minha calvície em paz, porque não sou obrigado a consumir algo só porque vocês julgam ser importante pra mim. Eu estou bem, mas muita gente não está! Se falar em ciência é estudar a vida, por que não nos preocupamos com quem está morrendo?


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Beijões Queen Size,

Claudia Rocha GorDivah